Autor de projetos de grande porte como o clube Sociedade Harmonia de Tênis, em São Paulo, o Centro de Convivência Cultural, em Campinas, e o Parque Cecap, em Guarulhos, o arquiteto paulista Fabio Penteado (1929-2011), que completaria 90 anos no próximo mês de junho, terá sua obra revisitada em uma exposição em Portugal..
Com curadoria de Francesco Perrotta-Bosch, “Irradiações” abre dia 23 de fevereiro na Casa da Arquitectura, localizada em Matosinhos, cidade na região do Porto. Serão apresentados cinco projetos dos anos 1960, que evidenciam a atenção do arquiteto para as dimensões coletiva e pública dos espaços. A mostra segue em cartaz até 28 de abril.
Para Francesco, o grande legado do arquiteto é o interesse pela dimensão coletiva da cidade e da sociedade. “Isso reflete nos elaborados raciocínios acerca do espaço público e de equipamentos de uso aberto a todo cidadão. Fabio Penteado foi, sobretudo, um arquiteto humanista”, diz ele.
A mostra é a primeira ação realizada pelo Arquivo Fabio Penteado, criado para difundir e preservar a obra do arquiteto, com coordenação de sua filha Adriana Moura Penteado. Outras ações estão previstas para este ano, como o lançamento do site com acervo digitalizado, a publicação de sua primeira biografia e uma retrospectiva em São Paulo.
Irradiações – A exposição reúne desenhos originais de cinco projetos de matrizes radiais de um período profícuo da carreira de Fabio Penteado, entre os anos 1962 e 1968. “Irradiar é o verbo gerador dos cinco projetos”, afirma Francesco Perrotta-Bosch. Os quatro primeiros projetos não foram concretizados. Já o último foi realizado a convite da Prefeitura de Campinas.
O Monumento da Playa Girón (Cuba, 1962), inscrito em um concurso internacional, celebra a vitória cubana sobre os Estados Unidos na tentativa de invasão à Baía dos Porcos, em 1961. O memorial apresenta um corpo singular que brota do solo na paisagem litorânea, sendo envolvido por uma praça para 30 mil pessoas.
O Monumento Comemorativo aos Trinta Anos (Goiânia, 1965) foi criado para o aniversário de Goiânia. De um ponto central partiriam oito faixas em concreto, cinco delas ocupadas por arquibancadas abertas à população. Os cinco blocos seriam ligados pelo subsolo, onde se localizaria um museu, preservando também a memória goianiense.
O projeto do Mercado do Portão (Curitiba, 1965) aboliu os corredores tão comuns de mercados convencionais. A circulação foi concentrada em uma praça central. As lojas irradiam a partir deste ponto, em uma estrutura de concreto e cobertura de vigas-calha de diferentes alturas e comprimentos.
O Teatro de Ópera (Campinas, 1966) foi inscrito em um concurso nacional.. A proposta ficou em segundo lugar, mas participando da I Quadrienal de Teatro de Praga, em 1967, recebeu a Grande Medalha de Ouro do evento. O prêmio levou a Prefeitura de Campinas a convidar Fabio Penteado para criar outro teatro para a cidade: o Centro de Convivência Cultural.
A irradiação proposta nos quatro projetos anteriores se materializaram no Centro de Convivência Cultural (Campinas, 1967-68). O teatro para oito mil pessoas é também uma praça pública, já que seu palco pode ser atravessado por qualquer pessoa, a qualquer hora do dia. A construção em concreto com formas irregulares e assimétricas é composta por quatro blocos, com coberturas em forma de arquibancadas. Todas estão ligadas por uma galeria em meio-subsolo.
Tombado pelo patrimônio histórico do Estado, o complexo cultural está fechado ao público desde 2011 e atualmente se encontra em processo de licitação para sua reforma, orçada em R$ 40 milhões, segundo a prefeitura de Campinas.
Além de 14 desenhos originais dos cinco projetos, informações variadas e textos curatoriais, uma grande maquete do Centro Cultural de Convivência será apresentada na mostra. O design gráfico é de Celso Longo e Daniel Trench e a expografia, de Juliana Prado Godoy.
SOBRE O ARQUITETO
Fabio Penteado (1929-2011) nasceu em Campinas e teve São Paulo como base de sua atividade profissional. Formado na Universidade Mackenzie (1948-1953). Esteve no Conselho Superior da União Internacional dos Arquitetos (UIA), de 1969 a 1975. Foi presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil em diferentes períodos, sempre com uma defesa intransigente pela democracia e pelo maior reconhecimento da importância da atividade do arquiteto na sociedade e em diversas instâncias políticas.
SOBRE O CURADOR
Francesco Perrotta- Bosch é arquiteto, ensaísta e curador do Arquivo Fabio Penteado. Mestre pela FAU USP, venceu o Prêmio de Ensaísmo Serrote (2013), do IMS. Trabalhou na montagem da coleção brasileira da Casa da Arquitectura (2017).
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