Conversas do Centenário – “O IAB que desejamos”. Por Luiz Antônio de Souza*

Conversas do tempo histórico de cada um de nós, com olhar no passado e flerte com um futuro, palavra que às vezes parece vaga e distante. Apenas por acaso, nos percursos que nos impõe a vida e nos prega sua imprevisibilidade, estou presidente do IAB-BA, neste ano  de 2021 em que o IAB completou 100 anos e o IAB-BA,  67 anos, em 30 de abril.

De forma saudável aceitamos ou fomos absorvidos nessa imprevisibilidade e tentaremos com serenidade – que a tarefa exige – refletir sobre O IAB QUE DESEJAMOS, sem nos deixarmos alarmar pelo desafio de imaginar o vindouro. O desejo é o meio-caminho do que somos e do que queremos ser, é buscar sempre crescer, se tornar mais potente. Ser mais. Mas qual é nossa força e como lidarmos com a ideia de que não há ponto de chegada? Somos máquinas de interpretar?

Haveríamos que refletir sobre o que foram esses tempos do IAB contados em 36.500 dias. Tarefa necessária e complicada, pois não saberíamos nos distanciar da nossa própria condição de atores. Mas desejamos chegar aos 73.000 dias e sabemos que temos limites, linhas de fuga a desviar-nos. Quem sabe, mais que desejar, possamos descortinar, num exercício coletivo, novos caminhos caminhando, reatualizando o nosso ideário, dispondo-nos ao exercício da resiliência, sabendo que o caminhar nos reserva rupturas, permanência, continuidade, descontinuidade, simultaneidade e a sempre presente imprevisibilidade.

Contudo, será mesmo que podemos imprimir nossos desejos como se fossemos estranhos ao corpo social do país? Impor nossos desejos ou mesmo nossas vontades à sociedade? Não caberia inquirir o que a sociedade espera ou deseja de nós?

Ainda ecoa o que pareceu um lema do nosso passado recente de que o “nosso negócio é o projeto”, provavelmente, o projeto arquitetônico; parecia que mergulharíamos num universo paralelo com pretensões autistas de nos desligarmos do mundo real, da nossa inserção na realidade brasileira como semente e fruto.

Antes de sermos arquitetos, somos ou precisamos ser cidadãos, e o ideário que construímos e defendemos é por uma arquitetura a serviço da complexa sociedade brasileira. Nosso “negócio é a Arquitetura”, e assim construímos um conjunto de declarações que guiam a práxis social e profissional e que, no seu curso, formulam e reformulam o nosso ideário. Todos os Brazis. Um só Brasil.

Atravessamos tempos dramáticos e complexos, e compor nossa história e o cenário para o futuro torna ainda mais intrincado o deslocamento no devir – mudança e transformação. O futuro exige que nos reconectemos com a sociedade, já não há lugar para construir o nosso próprio mundo: nossa história é também a história das relações sociais. Fomos arrebatados pelos “Eulofotes”, individualismos e competitividade que desconstroem a cooperação e a solidariedade. Queremos vantagem em tudo. Seria mesmo a vantagem um instrumento de cooperação? Ou um instrumento para nos transformarmos em um “ativo imobilizado?

Sem dúvida, devemos nos empenhar cada vez mais em criar objetos construídos para o aperfeiçoamento da sociedade, e seus ambientes precisam ser lugares inclusivos e justos. Pode alguém acreditar que uma moradia de 27 m2 é socialmente justa para uma família de trabalhadores que constroem riquezas e são alienados do processo de apropriação da riqueza criada? Repensar a arquitetura, quais tipos de engenhos tecnológicos podemos estimular ou mesmo criar passa por aí. Nos afastemos dos entulhos tecnológicos, do mesmo modo que a arquitetura se tornou manifestação simbólica de várias formas de poder, e deixou na maioria das vezes de expressar ou revelar o seu encontro com as necessidades gerais da sociedade. Esse seria o motor da busca de novos ideais e utopias.

O pensamento econômico hegemônico no país deu vida a uma construção teórica, assim o “mercado”, sequer objeto inanimado, fica nervoso, rebela-se com o que não lhe convém, enfim, tem vida própria. E assim somos controlados e guiados por estruturas econômicas que monetarizam a vida, a saúde e constroem equações financeiras para medir a composição dessas na taxa de lucro ou mesmo na sua queda tendencial. Precisamos reagir ao Novo Normal, que nada mais é que um Novo Passado, sob pena de construirmos um universo paralelo.

A tarefa que temos é a de nos alinharmos ao processo de reconstrução do país ao lado da sociedade civil organizada e passarmos a lidar com outras variáveis na nossa prática de inserção profissional e difusão do ideário da arquitetura e urbanismo protagonizado pelo IAB dos Brasis.

*Luiz Antônio é presidente do IAB-BA.

 

 

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